PAPO DE ESTANTE COM JESSICA M. (Carlos Ruiz Zafón) + SORTEIO

O texto da Jessica a respeito do escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón dispensa comentários. SIntam-se a vontade para se deliciar com as palavras dela e deixar seus comentários. Lembrando que a primeira promoção do blog sorteará um exemplar do livro "A Sombra do Vento", que já teve mais de 6,5 milhões de exemplares vendidos no mundo. Não deixem de participar. Clique aqui e saiba como participar.

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“Se você julgar um livro pela capa, pode acabar perdendo uma grande história”. Tal metáfora é usada com frequência para caracterizar as relações interpessoais, fazendo um paralelo ao pré-julgamento que nós, seres humanos, cheios de falhas e defeitos, costumamos fazer quase que por instinto sobre as situações, as coisas, as pessoas. Por esse motivo, quase sempre atribuímos juízo de valor negativo a esta frase. No meu caso, me deparei inicialmente com o sentido original e literal desse dito popular, quando vi um livro do Zafón pela primeira vez, em uma estante de livraria. Se existe o amor literário à primeira vista, foi exatamente o que me ocorreu naquele dia. O livro se chamava “A sombra do vento”. A foto de capa mostrava um homem segurando uma criança pelo braço, provavelmente, seu filho. Ao fundo uma cidade cinza, bucólica. Não pude deixar de associar a um cenário de guerra (tempos depois confirmei minha suspeita). Como adendo, havia uma informação em destaque “Mais de 6,5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo”.

Confesso que fazia muito tempo que uma leitura não me atraía tanto. O que era apenas um “livro de capa bonita”, acabou se convertendo em minha maior opção de lazer. Em meio a tanta leitura acadêmica universitária obrigatória, me faltava tempo para a leitura pura e simplesmente por prazer. Falando especificamente sobre a obra “A Sombra do Vento”, a mesma é capaz de entreter a qualquer apaixonado pela literatura, como é nosso caso. Os personagens estão ligados, de alguma maneira, ao universo literário. Em meio à livrarias e bibliotecas. O grande cenário é o “Cemitério dos Livros Esquecidos”. Daniel Sempere está completando 11 anos. Seu pai, ao ver Daniel triste por não conseguir mais se lembrar do rosto da mãe (já morta), lhe dá um presente: de madrugada, leva-o a um misterioso lugar no coração histórico da cidade, o Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar, conhecido por poucos na cidade, é uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo, à espera que alguém as descubra.

A regra deste lugar misterioso é: a pessoa deixa um exemplar de um livro que considere especial e/ou importante, e tem o direito de levar consigo qualquer outro, a livre escolha. A partir do momento em que sai dessa espécie de “santuário”, há o comprometimento em cuidar para que a memória do livro seja preservada ao longo do tempo. Daniel elege “A Sombra do Vento” de Julián Carax e a partir de então, resolve buscar mais informações a respeito deste autor. Descobre que quase ninguém o conhece e que alguém anda queimando todos os exemplares de seus livros. Então começa uma grande aventura que percorre as ruas da cidade de Barcelona, atravessando as fronteiras do tempo e da imaginação. Com um toque de romance, mistério e aventura. Por vezes, com excesso de ficção.

A escrita de Zafón e a maneira como conduz suas tramas, em minha opinião, diferem bastante da maioria dos escritores contemporâneos do mesmo gênero literário. Suas particularidades permitem que o mesmo seja facilmente reconhecido e identificado por pessoas acostumadas ao estilo de seus textos. Em termos de localização, Barcelona é cenário frequente em suas diversas obras. Além da história-ficção, o leitor é inserido de maneira muito sutil no Universo e na história da Espanha-Barcelona por volta do ano 1945. Não há menção direta à Guerra Civil Espanhola, nem à Segunda Guerra Mundial, mas ficam subentendidos os resquícios de tais eventos no ambiente. As citações de autores, frases célebres e outras particularidades de nativos espanhóis, enriquece a leitura, agregando conhecimento de mundo ao leitor, fator que particularmente, muito me agrada. Outro ponto marcante são as “frases de efeito”, que nos fazem refletir a respeito de valores considerados importantes para a vida em sociedade.

O grande sucesso de vendas de “A sombra do Vento” estimulou a editora responsável a reeditar exemplares dos primeiros livros escritos por Carlos, no início dos anos 90. Àquela época dedicava-se à literatura infanto-juvenil. Segundo palavras do mesmo, procurou escrever “os livros que gostaria de ter lido na sua adolescência”. Desta forma, nasceram “O Príncipe da Névoa”, “O Palácio da Meia-Noite” e “As Luzes de Setembro”, que compuseram o que ficou conhecido como “A trilogia da Névoa”. À parte desta trilogia, mas ainda voltado ao público juvenil, escreveu “Marina”.

Em relação à literatura voltada para o público adulto, após “A Sombra do Vento” foram lançados mais dois livros: “O Jogo do Anjo” e “O Prisioneiro do Céu”. Não há uma relação direta de continuidade entre as obras, assim que, não é necessária uma cronologia de leitura (ainda que começar por “A Sombra do Vento” seja a melhor “receita” a ser seguida).

O site do autor disponibiliza notícias, descarga dos capítulos iniciais dos livros e ainda possui área interativa, onde é possível a realização de cadastro de leitores (http://www.carlosruizzafon.com/). Com relação à possibilidade de adaptação cinematográfica de suas obras, Zafón é categórico ao dizer que prefere a imaginação livre de seu leitor, ao padrão e roteiro determinados pelo diretor de um filme.

Por fim, deixo algumas frases que marcaram minha leitura e o conselho para que se aventurem e deixem-se levar pelas fantásticas letras deste apaixonante espanhol, grande crítico e conhecedor da arte do encantamento., chamado Carlos Ruiz Zafón.

“Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece.”

“Os livros são como espelhos, neles só se vê o que possuímos dentro.” “Há prisões piores do que as palavras.”

“Certa ocasião ouvi um cliente habitual da livraria de meu pai comentar que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho ao seu coração. As primeiras imagens, o eco dessas palavras que pensamos ter deixado para trás, nos acompanham por toda a vida e esculpem um palácio em nossa memória ao qual mais cedo ou mais tarde – não importa os livros que leiamos, os mundos que descubramos, o quanto aprendemos ou nos esqueçamos – iremos retornar.”

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