[RESENHA] O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA, ANGIE THOMAS
- Thati Machado
- 13 de nov. de 2017
- 3 min de leitura

Título: O ódio que você semeia
Autora: Angie Thomas
Editora: Galera Record
ISBN: 9788501110817
Gênero: Young Adult
Páginas: 378
Parece que os tempos difíceis de leitura arrastada ficaram para trás com "Dumplin". Depois de devorar "Não conte nosso segredo", resolvi devorar "O ódio que você semeia" e terminei minha leitura completamente arrebatada. O livro foi cedido pela Record depois de uma visita à editora.
O livro conta a história de Starr. Uma adolescente negra que mora no gueto, estuda em um colégio de brancos ricos e meio que cria um alter ego para ser aceita em ambos lugares. Ainda muito nova, Starr foi ensinada como se comportar diante de um policial: mãos à vista; não faça movimentos bruscos; só fale com o policial se ele falar com você; abaixe a cabeça e seja obediente.
Starr viu sua melhor amiga sendo morta por um tiro ainda muito nova. Anos depois, em uma festa do seu bairro, ela reencontra Khalil, que também costumava ser seu melhor amigo. Quando a festa sai do controle e tiros são disparados, Khalil leva Starr até seu carro e resolve tirá-la dali antes que as coisas se compliquem. No caminho, contudo, eles são parados por um policial. Apesar de não portar nada ilegal e de estar com os documentos em dia, um movimento inesperado faz com que o policial atire contra Khalil três vezes e o mate bem ali, diante de Starr. Quando ela vai até seu amigo tentando ajudá-lo, o policial também aponta a arma para ela. A polícia age com brutalidade com os negros, como se suas vidas não importassem. E é claro que Starr se indigna com isso. #VidasNegrasImportam #BlackLivesMatter
"Era uma vez um garoto de olhos castanhos e covinhas. Eu o chamava de Khalil. O mundo o chamava de bandido. Ele viveu, mas não por tempo suficiente, e, pelo resto da minha vida, vou me lembrar de como ele morreu."
Vivendo um enorme dilema em sua vida dupla (durante a aula em um colégio de elite com a maioria branca e depois da aula em seu bairro periférico), Starr precisa encontrar sua arma mais poderosa: sua voz. E também decidir o que fazer com ela.
"THE HATE U GIVE LITTLE INFANTS FUCKS EVERYBODY [...] ISSO QUER DIZER QUE O ÓDIO QUE A SOCIEDADE NOS DÁ QUANDO SOMOS PEQUENOS MORDE A BUNDA DELA QUANDO CRESCEMOS E FICAMOS DOIDOS."
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que esse livro foi um tapa na cara. Um muito bem dado, por sinal. Como mulher branca de classe média, confesso que fiquei surpresa com a brutalidade a qual os negros são submetidos constantemente. Meus pais nunca sentaram comigo para me ensinar como reagir diante de um policial, por exemplo. E me dar conta de que isso era uma realidade para muitas pessoas, me chocou e fez eu me sentir horrível pela minha posição. Logo nas primeiras páginas do livro, concluí que precisaria reconhecer todos os meus privilégios se quisesse tentar entender, ainda que minimamente, a vivência de todos aqueles personagens.
E que personagens, hein?! Angie Thomas criou uma protagonista forte e cativante. Starr é o tipo de adolescente consciente e esclarecida que torna a leitura muito mais interessante. Ela é corajosa não porque não sente medo, mas porque segue em frente apesar dele. Além disso, toda sua família tem uma dinâmica muito boa. Seus pais e irmãos me cativaram desde o início. Seus amigos, tanto do colégio particular quanto de seu bairro, também são muito interessantes e cheios de história para contar. Eles deixam a trama ainda mais gostosa de se acompanhar. Uma das "melhores amigas" da Starr, no entanto, se revela uma verdadeira racista e preconceituosa e se dar conta disso é assustador, afinal, ela é aquele tipo de pessoa que diz: "Não sou racista, tenho até uma amiga que é negra", como se isso significasse alguma coisa.
Além dos personagens incríveis e de uma trama sufocante, o livro traz mensagens que precisam ser amplamente debatidas. Propagar o racismo e reforçar estereótipos (dizendo "isso é coisa de preto", por exemplo) não podem ser tolerados, não importa da boca de quem saia. A população negra, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, já sofreu muito e ainda sofre pelo simples fato de ser quem é. Nós, portanto, não temos o direito de tornar isso ainda mais difícil. Um pouco de empatia e amor pelo próximo não matam ninguém, muito pelo contrário. Permita que todos vivam com dignidade e igualdade, como deveria ser.
Se você ainda não leu "O ódio que você semeia", LEIA. A leitura desse livro deveria ser obrigatória, não importando a idade.

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