PAPO DE ESTANTE - CIDADES DE PAPEL, DO JOHN GREEN, POR JÉSSICA MIRANDA.
- thatiisr0
- 1 de mai. de 2014
- 4 min de leitura
Olá meu queridos companheiros literários. Hoje (ainda) é quinta-feira e, portanto, dia do nosso PAPO DE ESTANTE. A convidada de hoje é a querida Jessica Miranda, uma amiga com um gosto literário bem semelhante ao meu. Sua opinião acerca de "Cidades de papel" não diverge em nada da minha. Gostaria de compartilhar com vocês, apesar dos pesares, a união de alguns trechos desse livro que me tocaram e me inspiraram a criar um monólogo, que graças aos deuses foi muito elogiado.
"“Ele está morto” foi tudo o que eu disse. Estávamos no parquinho, e no carvalho grosso à direita havia um homem. Estava rodeado de sangue e sua boca estava aberta de um jeito que não parecia normal. Havia moscas rodeando seu rosto pálido. Seus olhos estavam abertos. As outras crianças gritavam feito loucas. Eu, no entanto, me aproximei para poder ver melhor e disse: “Ele está morto”.
Dizem que nossa cidade é bonita. Mas daqui do alto, eis o que não é bonito em tudo isso: daqui não se vê a poeira ou a tinta das paredes rachando, não dá pra ver o que esse lugar é de verdade. Dá pra ver o quanto é falso. Não é nem consistente o suficiente para ser feito de plástico. É uma cidade de papel.
De repente, o presente se tornou o futuro. A expectativa média de vida costumava ser inferior a trinta anos. Hoje, todos querem viver mais, vivem para o futuro. Fazem planos. A vida se tornou o futuro. Todos os momentos da vida vividos no futuro: você frequenta a escola para entrar na faculdade para arrumar um emprego para comprar uma casa legal e mandar os filhos para a faculdade...
… Para que eles consigam arrumar um bom emprego para comprar uma casa legal e mandar os filhos para a faculdade. Olha para essas ruas sem saídas, aquelas ruas que dão a volta em si mesmas, todas aquelas casas construídas para virem abaixo. Todas as crianças de papel. Todos idiotizados com a obsessão por possuir coisas. Todas as coisas finas e frágeis como papel. E todas as pessoas também. Vivi aqui durante dezoito anos e nunca encontrei ninguém que se importasse realmente com qualquer coisa.
Eu não gostaria que o meu corpo fosse encontrado por umas crianças quaisquer... Quando todos os meus fios se arrebentassem, seria do meu jeito. Afinal de contas, não sou qualquer uma. Não sou uma pessoa de papel."
E, finalmente, vamos ao texto da nossa querida Jéssica.
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John Green fez um trabalho maravilhoso ao escrever A Culpa é das Estrelas, e assim como milhares de pessoas, eu estava tão encantada com aquela história, que precisava ler os outros livros do autor. A minha expectativa era de que seus outros trabalhos fossem no mínimo no mesmo nível, ou seja, muito bons. Porém, quando terminei de ler O Teorema Katherine, tive uma grande decepção, já que a história, apesar de ser bonitinha, não tinha nada demais. Acabou sendo apenas mais um romance entre adolescentes, sem uma história que tocasse os leitores. Mas fui persistente em conhecer os outros livros do John, por isso parti para Cidades de Papel.
Neste livro, nós acompanhamos a paixão platônica de Quentin Jacobsen por sua colega de escola, e também vizinha, Margo Roth Spiegelman. Na infância, os dois costumavam ser melhores amigos, porém após encontrarem o corpo de um homem morto no parque, eles acabam se afastando, mas sem nunca esquecer tal acontecimento. Após anos, Margo se torna a menina mais popular do colégio, e Quentin, apenas um nerd. A típica história onde o menino que não é tão conhecido, nutre uma paixão pela garota que todos amam. O que diferencia Margo das outras meninas, é que ela possui um estilo de vida altamente aventureiro, e é exatamente por isso, que em uma noite ela acaba surgindo no quarto de Q (como é conhecido Quentin).
Eles passam a madrugada inteira visitando alguns ex-amigos de Margo e se vingando de cada um. No dia seguinte, o único pensamento de Quentin era sobre como seria sua relação com Margo na escola, mas o que ele não imaginava era que a garota sumiria, deixando apenas algumas dicas sobre como encontrá-la. Dicas estas que eram específicas para ele, o que o levou a começar uma verdadeira busca.
"... Esses adolescentes são como balões de hélio presos por um barbante. Eles fazem força na direção oposta ao barbante e fazem mais força, até que algo acontece, o barbante se rompe e eles vão embora, voando. E talvez a gente nunca mais os veja."
E foi a partir deste momento que eu comecei a achar que esta poderia ser uma excelente história. Mas o livro acabou se tornando uma busca longa demais, e ao chegar à metade, eu só pensava que precisava passar logo por aquela parte, pois havia se tornado entediante. Apesar disso, continuei a leitura, pois tinha esperanças de que o final fosse valer a pena, e que a aventura de Quentin e seus amigos, Ben e Radar, ao ir atrás de Margo, fosse terminar de uma forma inusitada.
O que estimula a leitura, é que John Green tem uma forma divertida de escrever, e seus personagens sempre acabam nos fazendo rir. Podemos ver isso nos diálogos entre Quentin, Ben e Radar, que durante toda a história fazem diversos comentários engraçados. Acho que a história poderia ter sido melhor aproveitada. No começo, o livro prometia ser uma excelente aventura, mas no seu decorrer, parecia que estava apenas se arrastando para que enfim chegasse ao final.
Conclusão, o livro realmente é interessante, mas não é nada que supere as expectativas. Sendo assim, eu acho que se tivesse lido ele antes de A Culpa é das Estrelas, talvez teria gostado muito mais, já que não estaria esperando nada tão maravilhoso do autor.
"Eu olhava para baixo e pensava que eu era feita de papel. Eu é que era uma pessoa frágil e dobrável, e não os outros. E o lance é o seguinte: as pessoas adoram a ideia de uma menina de papel. Sempre adoraram. E o pior é que eu também adorava. Eu tinha cultivado aquilo, entende? Porque é o máximo ser uma ideia que agrada a todos. Mas eu nunca poderia ser aquela ideia para mim, não totalmente."
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