[RESENHA] A GAROTA DA CASA GRANDE, AMANDA MARCHI

Título: A garota da casa grande

Autora: Amanda Marchi

Editora: Novo Século

ISBN: 9788542800234

Gênero: Literatura brasileira, Romance

N° de páginas: 112

Sinopse: O livro “A Garota da Casa Grande” é narrado por sua personagem principal, Georgia, que, sarcástica e ironicamente, apresenta-nos seu mundo através de seus belos olhos azuis. Presa na casa de sua avó em uma cidade pequena, onde não há nem ao menos um shopping, ela se vê em uma rotina monótona até conhecer Alice, sua vizinha, não da frente, mas, da diagonal. Um romance, sobretudo, entre seres humanos, que lutam contra o preconceito da cidade pequena e de si mesmas.

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Quem nunca passou as férias com os parentes distantes de uma cidade pequena, que atire um manual de sobrevivência! Geórgia certamente gostaria de ter levado um, até conhecer sua provisória vizinha da diagonal. Mas espera, não foi um erro de digitação? Você não quis dizer vizinho? Fico feliz em informar que não, assim como Gilberto Braga não escalou por engano as queridíssimas Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro, naquele beijo lésbico de Babilônia. E se você ainda não se acostumou com a invasão gay nas telinhas, é melhor se preparar para o novo gênero Queer que anda ganhando espaço na literatura.

Deixo todos avisados porque essa minha pessoa resolveu iniciar a leitura do e-book sem prévia pesquisa da sinopse. Então supus que o narrador fosse um garoto, que provavelmente conheceria A Garota da Casa Grande e viveria um romance de época, no melhor estilo novela das 6 (alguém está muito teledramaturga hoje - se é que essa palavra existe). Agora, analisando melhor, acho que deveria ter sacado as manchas de batom nas xícaras da capa. Mas o que posso dizer? Não sou muito observadora.

"Sempre achei esse momento estranho. O momento em que alguém diz que está com saudade de você, mas o sentimento não é recíproco"

Acabou se revelando uma agradável e constante surpresa, porque nada nesse livro se encaixa no lugar comum das coisas românticas. Aquele onde pessoas se encontram em um supermercado e instantaneamente sabem que são almas gêmeas, simples como reconhecer um tomate na sessão de hortifruti. Embora ache que o enredo tenha se perdido em alguns desdobramentos, o resultado é quase tão improvável quanto a vida real. Algo que valorizo em uma narrativa.

"A primeira semana de minhas férias emocionantíssimas passara tão rápido quanto o degelo das calotas polares. Sabíamos que estava acontecendo, mas ainda demoraria muito para ser um fato concreto"

A escrita de Amanda Marchi é outro bônus: maravilhosamente sagaz. Me admira a personalidade que ela conseguiu imprimir em Geórgia (ótimo nome, por sinal). Sei que a maioria dos leitores se apaixona por Alice, mas como não amar uma personagem que lê John Grisham, Agatha Christie e Oscar Wilde? ❤ Em determinados momentos, me peguei dialogando com a tela do tablet. Geórgia divagava sobre a complicação extrema de arianas de um lado e eu respondia do outro, quase em voz alta: Arianas são realmente difíceis – como se conhecesse muitas pessoas do signo.

“Ele, com apenas um olho, foi capaz de escrever um livro, e eu, com todos os meus movimentos e reflexos, não conseguia escrever nem ao menos uma lista de supermercado se eu precisasse.”

(Pausa para uma breve identificação pessoal com o quote que me define nas várias horas de bloqueio criativo, tentando escrever a última resenha, sobre Stephen Hawking)

No entanto, é difícil ter um maior grau de afinidade quando a história reflete um estágio de vida tão diferente do seu e este é um livro teen. O que me fez sentir nostálgica, mas não realmente envolvida, como provavelmente teria ficado alguns (muitos) anos atrás. Gostaria de ver uma obra mais adulta da autora. Quem sabe, em breve? Vale a pena acompanhar de perto.