[LOOK PLUS SIZE] PORQUE EU POSSO VESTIR O QUE EU QUISER!
- Thati Machado
- 15 de out. de 2015
- 4 min de leitura
Espera, você não leu o título do post de hoje errado. Sim, o tópico de hoje é: roupas. Você não se enganou de blog, pode ficar tranquilo, esse ainda é o NEM TE CONTO de sempre, mas com algumas mudanças, como essa. Decidi abordar outros assuntos por aqui e o meu único critério vai ser: o que me der na telha. Resolvi falar de moda hoje, ou mais precisamente de roupas, mas de um jeito todo meu. Não estou interessada apenas em contar o que estou vestindo e quanto custou cada uma das peças (mas se vocês quiserem, posso fazer isso qualquer dia desses). Hoje, quero falar sobre algo mais pessoal, íntimo... Vai soar como uma confissão, talvez, não posso dizer ao certo. Às vezes planejo abordar um assunto de um jeito e acabo abordando de outro, porque sinto que as palavras me guiam ao invés de serem guiadas.

Acho que desde os meus seis anos estou acima do peso. Particularmente, prefiro dizer que sou acima do peso, já que não tenho pretensões de mudá-lo de forma a me tornar magra. Não tenho lá muitas recordações da minha infância, mas de uma coisa eu me lembro: sempre foi difícil comprar roupas para mim. Principalmente roupas para datas festivas. Vestido de festa junina? É melhor procurar nos tamanhos para adultos. Ou pedir um sob encomenda. Dia do índio? Vishi, vai deixar a gordinha colocar a barriga para fora? É melhor comprar um colã. Biquíni? Onde já se viu? Com esse peso, é melhor comprar um maiô, não acha?
Cresci ouvindo esse tipo de coisa. Não culpo ninguém, mas esse é o tipo de coisa que as pessoas reproduzem sem nenhuma reflexão. Por isso, cresci achando que existia um tipo certo de roupa para mim. Minha adolescência foi um pouco frustrada por causa disso... Não pude acompanhar a moda, que parecia sempre me deixar de lado. Nada de moletom curtinho para mim. Nem de piercing no umbigo (embora eu nunca tenha cobiçado um, de fato). Sabe aquela baby look que o meu colégio resolveu lançar? Não pude nem sonhar, para mim era melhor a camisa masculina mesmo.
Demorou muito, muitíssimo tempo para eu perceber que tudo isso era um absurdo sem tamanho. Foram anos e anos sendo contaminada por esse tipo de repetição exaustiva, então a mudança não se deu de uma hora para outra. O primeiro passo, pelo que me lembro, veio aos dezenove anos. Ou vinte, não sei ao certo. Comprei meu primeiro biquíni. No começo foi horrível. Por ter usado maiô durante anos, eu tinha uma barriga branca e pálida que, coitada, nunca tinha visto a luz do dia. Mas tudo bem, eu estava pronta para dar um passo de cada vez e ser paciente. E eu fui. Depois do biquíni veio a blusa com transparência. E depois o short curto. Veio também a calça de cintura alta, de cintura baixa, de cintura média... E qualquer coisa que me fizesse sentir bonita.
Recentemente quase me senti deixada de lado pela moda mais uma vez. Os croppeds voltaram a ser tendência. Descobri seu nome há pouco tempo, sempre os chamava de "blusas curtas e fofas". E eu estava loooouca por essa peça no meu guarda roupa, mas... Havia um problema. Croppeds mostram a barriga e as pessoas não estão interessadas em ver barrigas gordas desfilando por aí. Era assim que as marcas queriam que pensássemos, afinal, suas peças raramente vestiam mulheres com mais de setenta (talvez eu até esteja sendo generosa) quilos. As marcas que pareciam pensar e investir na moda plus size, infelizmente, pareciam acreditar que todas éramos coroas recatadas. Meu ódio pela indústria da moda só crescia.
Então fui aos Estados Unidos recentemente. As primeiras lojas me encheram de decepção e desgosto. Havia roupas do meu tamanho, é verdade, mas eram calças sem corte, camisas de malha e moletons nada femininos. Quase surtei! Até que... Entrei na Forever 21. A loja era tão grande que até me senti um pouco tonta, a princípio. Não sabia por onde começar. Parei uma funcionária e perguntei, no meu inglês precário, onde ficava a área plus size. Ela não entendeu, então tentei de novo: com tamanhos grandes! "Ah sim!!" a expressão dela parecia dizer, ao me indicar a sessão procurada.

E então eu fiquei louca. Surtada de verdade. Perdi o juízo e parte do dinheiro que juntei com afinco. Porque lá a moda parecia querer que eu fizesse parte dela. Achei um cropped do meu tamanho. E uma calça de cintura alta para combinar. Achei saia de tule (não venham me dizer que ela me engorda, porque nunca vi roupa emagrecer ninguém. Quer emagrecer? Faça uma dieta ou exercícios, roupas não possuem a capacidade de transofrmar o seu corpo!!!), calça jeans rasgada, camisa de botão curta, decotes provocantes e... AH MEU DEUS! EU ESTAVA AMANDO TUDO AQUILO. Eu estava amando TANTO tudo aquilo, que nem esperei chegar ao Brasil para vestir algumas peças. Eu precisava sair pela rua usando um cropped e calça de cintura alta como se não houvesse amanhã... Eu precisava mostrar como o meu corpo de mais de 100 quilos podia ficar LINDO dentro daquela combinação. Eu precisava, sei lá, parar de sentir que determinada peça de roupa não devia ser usada por mim.

Foi libertador e acho que todo ser humano deveria provar essa sensação uma vez na vida. Lamento não encontrar essas mesmas roupas com facilidade aqui no Brasil, mas tenho esperanças de que a indústria da moda perceba o nosso valor (ou devo dizer, nosso PODER?). Não importa o meu peso, a minha cor, o meu biotipo... Sou eu quem devo avaliar qual tipo de roupa devo ou não usar. Eu e apenas eu posso decidir qual corte de cabelo é melhor para o meu rosto.
Eu não sei vocês, mas estou torcendo por uma moda mais inclusiva. Onde cada um (e não a indústria) possa decidir o que fica melhor em si.
Se qualquer dia alguém vier te falar para você usar roupas mais adequadas para o seu corpo, espero que você, assim como eu, já saiba o que responder!

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