[RESENHA] GUERRA NEGRA, DÉBORA FALCÃO
- Larissa Pez
- 12 de fev. de 2016
- 3 min de leitura

Aproveitei o carnaval, minha convalescênça e a redução drástica da velocidade da internet para colocar a leitura em dia. Tudo favorável para que essa resenha saísse hoje, embora não tanto para minha vida social. Mas quem se importa? Só porque moro no epicentro do frevo, bonecos gigantes e Galo da Madrugada, não significa que preciso passar o feriado nas ladeiras de Olinda. E daí que não pude usar minha fantasia? Há outras formas de assumir diferentes personas, como as disponíveis nas páginas de um livro.
Título: Guerra Negra
Autora: Débora Falcão
Editora: Clube de Autores
ISBN: 9788591499908
Número de Páginas: 248
O mundo está diferente. Caminhando a passos largos para uma guerra sem precedentes. Países que antes eram inexpressivos para a economia mundial começam a se destacar; os que antes pareciam neutros agora tomam partidos. Cada um luta por garantir sua fatia de mercado. Enquanto isso, um homem se destaca e cresce politicamente. Jovem, bonito, de família tradicional francesa, carismático, com incrível poder de persuasão. M. Junius de Margeau parece ser a única salvação para os problemas gerados pela ganância e egoísmo da humanidade. Mas, por baixo de tanta beleza e bondade, algo muito estranho se esconde e uma garota de dezessete anos descobre isso da pior forma possível.
O ano é 2021, um futuro muito próximo para uma realidade tão divergente. A tecnologia sofreu alguns avanços significativos e a humanidade já está começando a pagar seu débito com o planeta em mudanças sutis como formas alternativas de combustível e hábitos alimentares. Mas isso passa despercebido na primeira parte do livro, que mais parece se situar no passado medieval.
Keren-Hapuque é uma adolescente judia a quem foi concedida a oportunidade de estudar em uma escola na Califórnia. Já no primeiro dia de aula, é convidada para o aniversário de um garoto mais velho e decide que essa é uma ótima maneira de se enturmar, no melhor estilo americano. Festa estranha, com gente esquisita, provavelmente inspirada em De Olhos Bem Fechados. Qualquer pessoa normal teria saído correndo dali, mas, por alguma razão, ela fica.
Logo Keren descobre que todos os alunos da escola fazem parte de uma irmandade meio Nova Era, na qual são rebatizados com nomes místicos e participam de rituais pagãos. Além de perturbador, é um pouco confuso e você tende a antipatizar com uma pessoa tão influenciável e desesperada por aceitação. Se estiver em uma livraria, folheando o livro para decidir se compra, talvez devolva à prateleira com uma expressão de espanto.
Agradeço por não ter tido essa opção, porque a segunda parte dá uma reviravolta incrível.
“Então ela começou a sentir dores lancinantes nos locais onde estava amarrada. E viu a todos de uma outra perspectiva. A perspectiva da morte iminente.”
Tudo se encaixa e tem um propósito, até mesmo aquilo que parecia sem sentido e o que você não deu muita importância. Débora certamente pensou em todos os detalhes. Aliás, essa preocupação fica evidente em um grande trabalho de pesquisa para compor os elementos religiosos, científicos e políticos da história. Não fosse o escândalo da Petrobrás, talvez algumas previsões tivessem se concretizado.
Isso rendeu uma história totalmente original. Mas é preciso ter a mente aberta para o transcendente. A Guerra Negra não se dá apenas entre países e blocos econômicos. Na verdade, estes são efeitos colaterais de uma disputa entre entidades sobre-humanas. O apocalipse, tal qual anunciado no Novo Testamento.
A escrita é simples, com muitos diálogos e pouca reflexão sobre as cenas. A autora não se demora em parágrafos analíticos, apresentando apenas o necessário ao enredo. Eu gosto de um pouco de prolixidade, então isso me fez falta. Por outro lado, são poucos os erros de revisão e isso sempre agrada a leitura.
O romance, para mim, ficou um pouco a desejar. Em poucos dias, Keren confiou e se entregou a uma pessoa desconhecida, com uma intensidade excessiva. Não que isso não aconteça, mas não teve o desenvolvimento necessário para o leitor sentir o romance e se envolver com os personagens. Isso melhora com o tempo, sobretudo durante os sonhos lúcidos. Pela forma como terminou, deve atingir outro nível no segundo livro.
E por falar em final, o timing não poderia ter sido melhor. O livro se encerra em um clímax perfeito de suspense, como deve ser em uma Saga. Um prelúdio instigante para a continuação, Império da Luz, que já está disponível para venda pela mesma editora.

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