[RESENHA] POR LUGARES INCRÍVEIS, JENNIFER NIVEN
- Thati Machado
- 3 de out. de 2017
- 3 min de leitura

Título: Por Lugares Incríveis
Autora: Jennifer Niven
Editora: Seguinte
ISBN: 978-85-65765-57-2
Gênero: Ficção Juvenil
Páginas: 336
Por Lugares Incríveis conta a história de dois jovens que estudam no mesmo colégio, mas nunca tiveram seus caminhos cruzados. Pelo menos, até aquele momento. Theodore Finch é conhecido como "aberração", enquanto Violet é uma jovem que costumava ser popular, mas que ficou devastada depois da morte inesperada da irmã. A vida dos dois se cruza na Torre do Sino do colégio, quando ambos consideram o suicídio como uma opção. Finch acaba salvando Violet, mas como ele é o garoto problemático da escola, todos acreditam que foi Violet quem salvou Finch, e não o contrário.
Depois desse episódio que poderia ter terminado de maneira trágica, Finch e Violet se aproximam gradativamente. De início, Violet não entende o que tanto Theodore quer com ela e tenta se livrar dele. Nosso protagonista, contudo, insiste na aproximação, até que eles precisarão fazer um trabalho escolar juntos: explorar lugares improváveis de sua cidade e relatar tudo.
Passando mais tempo ao lado de Finch, Violet começa a perceber que ele é um garoto muito especial. Apesar de ser visto como "estranho" por muitos, Finch é sincero, generoso, atencioso e se importa com Violet. Se importa de verdade. Ele faz Violet querer voltar a viver... Viver de verdade, e não apenas existir. Termino a premissa da história por aqui, para não acabar soltando nenhum spoiler sem querer, rs.
"Agora tudo o que vejo é uma garota morrendo de medo de viver. Vejo as pessoas darem um empurrãozinho de vez em quando, mas nunca forte o suficiente porque não querem contrariar a pobre Violet. Você precisa de um baita tranco, não de um empurrãozinho. Você precisa retomar as rédeas. Ou vai ficar em cima do parapeito que construiu para si mesma para sempre."
A narrativa do livro é intercalada entre os dois personagens. Enquanto Violet conta os dias para a sua formatura, para poder se libertar daquela vida e apenas seguir em frente, Finch conta quantos dias consegue ficar desperto. Sabemos, durante toda a trama, que há um apagão à espreita, mas só sabemos do que se trata, de fato, próximo do fim do livro.
Jennifer Niven criou personagens tão profundos e reais, que é difícil não se apegar a eles e sentir suas dores. Enquanto fala da dificuldade de viver e seguir em frente, apesar do luto, ela também explora a saúde mental e como uma família omissa pode ser perigosa. Finch volta e meia vivenciava o que ele chama de "apagão" e ninguém próximo se questiona o motivo ou tenta entender o que realmente acontece com ele. Ele passa longos períodos sem ir a escola, sem sair de casa, e os pais não dão a mínima para isso.
" (...) mas um ponto positivo da vida é que podemos ser alguém diferente pra cada pessoa."
O livro traz à tona assuntos ainda tidos como tabu, que precisam ser amplamente discutidos. Depressão é a doença do século XXI. O suicídio, por sua vez, mata uma pessoa a cada 40 segundos. No próprio livro a autora mostra como esse é um assunto sempre jogado para debaixo do tapete. Ao invés de reconhecerem o suicídio que ocorreu no livro (não vou dizer de quem foi para não comprometer a leitura de ninguém), os pais e as autoridades tratam tudo como um acidente. Suicídio não é egoísmo, não é falta de Deus no coração, não é covardia, não é a opção mais fácil. Para pessoas com doenças mentais, o suicídio pode ser a ÚNICA opção.
Sem sombra de dúvidas, recomendo Por Lugares Incríveis para todos que buscam uma história leve, divertida e ao mesmo tempo intensa e densa. Jennifer mescla todos esses sentimentos com maestria. Tudo que ela descreve é tão real e visceral, que você passa o livro todo se perguntando se ela passou por algo parecido na vida (e ao final, nos Agradecimentos da autora, temos a resposta).
Leiam Por Lugares Incríveis e recomendem para todos que puderem. Não julgue as outras pessoas, pois ninguém sabe pelo que o outro está passando. Se achar que alguém precisa de ajuda e que você não está apto para a tarefa, procure o CVV ou um médico. Se você sofre de depressão, transtorno bipolar ou qualquer outra doença mental, não tenha vergonha de pedir ajuda. Se pensamentos suicidas passam pela sua mente, repito, não tenha vergonha de pedir ajuda. Ninguém precisa passar por nada disso sozinho.

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